quinta-feira, 14 de setembro de 2017

AS DESIGUALDADES INTERNACIONAIS

Atualmente, um dos maiores problemas mundiais são as diferenças entre países ricos e países pobres. Fala-se de um abismo entre o Norte desenvolvido e o Sul subdesenvolvido. Apesar de haver um elemento de verdade nessa ideia, temos de lembrar que esses dois termos são genéricos, uma vez que Norte e Sul englobam países com distintos níveis de desenvolvimento.
Considera-se como o Norte geoeconômico um conjunto formado por mais ou menos 30 países com cerca de 25% da população e quase 60% da riqueza do mundo. No lado oposto, o sul geoeconômico temos um enorme conjunto formado por cerca de 170 países abrangendo 75% da população mundial e somente cerca de 40% da produção econômica do Globo. Contudo, é necessário esclarecer alguns mal- entendidos.
Primeiramente, é preciso compreender que não se trata de dois hemisférios, separados pelo Equador. O Norte e o Sul geopolítico são, na verdade duas porções do Globo divididas por uma linha sinuosa que separa os Estados Unidos da América Latina, à Europa da África e depois, no Oceano Pacífico, faz uma curva para o sul para incluir a Austrália e a Nova Zelândia do Norte geoeconômico.
Em segundo, lugar os dois conjuntos são artificiais, ou seja, criados por estudiosos. Eles não são, portanto, blocos ou associações de países que atuam em comum, como era o antigo bloco socialista sobre a liderança da ex-União Soviética. Pelo contrário, alguns países do Sul, como Índia e Paquistão, são adversários declarados.
Em terceiro lugar, os países não formam conjuntos homogêneos. Existem países extremamente desenvolvidos no Norte - Estados Unidos, Alemanha, Japão, Finlândia ou Canadá e, nações de desenvolvimento mediano - Grécia, Portugal, Rússia ou Bulgária. Em relação aos países do Sul geoeconômico as diferenças são ainda maiores, com economias superindustrializadas - China, principalmente - ao lado de economias frágeis e quase sem industrialização Haiti e Costa do Marfim, Uganda, Mongólia, Afeganistão, etc.
Por fim, existe o fato de que as economias não são fixas e imutáveis. Não é verdade que os países subdesenvolvidos vão ser sempre pobres e as nações ricas estarão sempre em vantagem. Mudanças ocorrem, mesmo que leve muito tempo.
Portugal, por exemplo, no século XV, era uma grande potência mundial, dispondo de um grande império. Hoje o país é um estado pouco importante, que não só não é considerado subdesenvolvido porque pertence à União Europeia. Por outro lado, durante o século XIX e XX, a China foi considerada o grande exemplo de um país pobre e sem grandes perspectivas. Mas aos poucos está se tornando uma das grandes economias do mundo, embora continue a ter milhões de pessoas vivendo na pobreza. Dentro de alguns anos pode ser que a China seja considerada um país do Norte geoeconômico.
As desigualdades no interior das sociedades humanas e entre os diferentes povos ou Nações existem desde a antiguidade. Mas, em geral, essas desigualdades eram relativamente pequenas em comparação com as de hoje. A Revolução Industrial fez com que as desigualdades internacionais se ampliassem muito.
A Revolução Industrial, iniciada em meados do século XVIII, provocou o desenvolvimento de uma pequena parte do mundo com a chamada modernidade, industrialização, urbanização, diminuição das taxas de mortalidade geral infantil, intenso uso de energia e aumento na produtividade do trabalho, etc. Mas essa revolução tecnológica também ampliou as desigualdades sociais e, principalmente, internacionais.
É importante lembrar que em 1701 1870 nenhuma instituição pesquisava a renda per capita de uma sociedade e o dólar norte-americano nem sequer existia. Em todo caso, os valores referentes a esses dois anos são estimativas feitas por historiadores e economistas, ao passo que os dados de 1950 e 2010 já são estatísticas calculados por organizações internacionais. Essa tabela nos fornece uma noção do período em que as desigualdades internacionais se acentuaram.
Como podemos constatar, as desigualdades internacionais eram pequenas em 1700 (antes da Revolução Industrial, iniciada por volta de 1750). A diferença entre o país mais rico do mundo na época e a média da do continente africano era de pouco mais de duas vezes, algo irrisório quando comparamos com as diferenças existentes hoje: os Estados Unidos tem uma renda per capita 32 vezes maior que a média da África.
Os norte-americanos em 1700 tinha uma renda média semelhante à dos latino-americanos. O Japão também não se diferenciava dos seus vizinhos asiáticos tal como passou a ocorrer a partir do século XIX. Alguns poucos países ou regiões do Globo já começaram a despontar em razão da expansão marítima comercial europeia iniciada no final do século XV e que deu origem as colônias de países como Espanha, Portugal, França, Países Baixos e Reino Unido. eles tinham uma renda média um pouco superior ao restante do mundo em virtude das riquezas que extraiam ou produziam nas colônias (ouro, prata, açúcar, algodão, madeiras nobres, etc.
Todavia, as desigualdades internacionais já eram bem mais notáveis no final do século XIX (1870). Nessa época vivemos o apogeu da Revolução Industrial, que do Reino Unido se espalhou para os Atuais países desenvolvidos. Com a industrialização, a Europa reforçou a sua posição como centro econômico e militar do globo, posição essa que já havia sido iniciada, embora timidamente com a expansão marítimo comercial dos séculos XV e XVI.
Mas até o final da Segunda Guerra mundial não se falava em dois conjuntos de países, desenvolvidos e os subdesenvolvidos, porque a grande maioria dos países pobres era colônia das potências europeias - principalmente na África e na Ásia. Como as metrópoles diziam estar civilizando ou modernizando suas colônias, não admitiam o uso do termo subdesenvolvimento, porque as colônias eram áreas sob a sua responsabilidade. A problemática das desigualdades sociais, dessa maneira, começou de fato após 1945, em especial após a descolonização das antigas colônias na África e na Ásia.

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