terça-feira, 6 de maio de 2014

A GRAFITAGEM PARA A EDUCAÇÃO

A intenção aqui é evidenciar a identidade dos grafiteiros e as contribuições que essa arte de rua possa dispensar a educação em artes visuais, possibilitando através de projetos a interdisciplinaridade, onde todos possam, através de ações coletivas, despertar nos educandos o gosto pela arte, provocando suas habilidades e competências para produzir arte e respeitando a forma como cada um a desenvolve . O objetivo aqui não é destacar os aspectos técnicos de produção do grafite, mas algumas questões atuais sobre os sentidos do ensino de arte levantados por ele.
Deste modo, a abordagem é feita a partir do que denominamos “arte de rua” e a “arte de museu, desse modo, Dewey (1980), critica a separação que a visão capitalista de experiência estética impõe entre a arte e a vida prática, distanciando as pessoas ‘comuns’ do círculo elitista de apreciadores, únicos capazes de compreender e fruir a profundidade da experiência contemplativa. As obras de arte expostas nos museus é sinônimo de status, pois são contempladas pela elite da sociedade, que representa sinônimo de bom gosto e parte de um grupo seleto. Dessa forma, a “arte de rua” não é aceita pois não representa os conceitos e ou valores burgueses - qualidade artística, refinamento intelectual, sensibilidade desenvolvida e boas maneiras.
O Grafite é uma forma de manifestação artística que se dá em espaços públicos através de inscrições feitas em paredes e muros. Acredita-se que o hábito de deixar escritos nos ambientes tenha surgido no Império Romano com os grandes exércitos e a política imperialista.
Em território nacional o Grafite foi introduzido no estado de São Paulo e se espalhou por todo o território, onde cada região se apropriou de formas diversas. Além de ganhar força o movimento ganhou características próprias do povo brasileiro e hoje é reconhecido como um dos melhores grafites do mundo.
Toda manifestação artística representa a situação histórica na qual está inserida e realizada pelo sujeito histórico dentro de um contexto histórico-social e econômico. No entanto , o grafite utilizando-se da cidade como suporte , a de retratar a situação , nesse meio presenciada ou vivida , assim relaciona automaticamente com a pichação também, cujo seu veiculo de existência também é
o espaço urbano. Assim como o grafite a pichação interfere no espaço , subverte valores, é espontânea , gratuita , em fim . Mas há diferenças, entre o grafite e a pichação , é que o primeiro advém das artes plásticas e o segundo da escrita, ou seja, o grafite privilegia a imagem, a pichação , a palavra ou a letra , sempre retratando o que a de convir ao contexto.
O grafite ao utilizar o meio urbano como forma de expressão, contrário aos demais movimentos artísticos , que se inserem na sociedade através de um trabalho muitas vezes planejado e exposto em galerias e museus , faz com que seja bastante questionado. Um dos aspectos conceituais mais interessantes encontrados nessa linguagem, é sem duvida, a questão da proibição, sempre presente , talvez um preconceito ou mesmo uma falta de informação a respeito do que acontece e a arte final prescrita no muro , faz com que muitos da população ajam a favor dessa proibição, ao visualizar esse tipo de ação. Ao observamos essa opressão, ou melhor, dizendo essa proibição, percebemos que ela está ligada ao conceito de propriedade privada, ou seja, o que pensara o proprietário do espaço ao ver sua propriedade grafitada, sem sequer ser comunicado. Engloba uma questão bastante ideológica ao referirmos a esse aspecto, porém a de convir que o grafite por sua natureza intrínseca, sempre será marginal. Mas se focalizarmos o aspecto de pratica com as técnicas, de proposta de trabalho e de amadurecimento das obras, reconheceremos, num primeiro momento, uma fase de domínio marginal. Fase em que os artistas pelas ruas da cidade pesquisavam e realizavam o grafite basicamente preto e branco. Porém esse estilo, se é que podemos taxar dessa maneira, ainda tem suas raízes atuais, o fato de fazer grafite com pouca elaboração e de maneira ilegal ainda aflora-se na mente dos artistas, assim podemos confirmar observado-se a cidade como um todo, e que em sua maioria é tomada por esse estilo, descrito como bom Bing, ou mesmo trono, numa representação espontânea.
No entanto não podemos, dizer que a população vem encarando o grafite a cada dia que se passa como um meio artístico da cidade, podem até afirmar isso, porém discordam da ação, assim vejo que a proibição está , mais do que nunca , em pauta.
A trupe de grafite americano, começou a despontar em 1980, junto com o movimento hip hop, fazendo parte dos tão falados 4 elementos¹, que no caso se ligam diretamente ao rap. ____________________
¹ os DJs, nos toca discos, os MC's , no microfone, mandando sua mensagem, os B.Boys , entrando no compasso do rap com danças criativas, e os graffers , colorindo o meio em que passam.
Grafite polemico em Boston - A dupla brasileira Otavio e Gustavo Pandolfo, conhecidos como Os Gêmeos, tem pela primeira vez uma exibição de arte nos Estados Unidos. A exposição abriu no Institute of Contemporary Art em Boston.

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² No mundo do grafite, não existem irmãos mais conhecidos que, é uma dupla de irmãos gêmeos idênticos grafiteiros de São Paulo, nascidos em 1974, cujos nomes reais são Otávio e Gustavo Pandolfo.


No Brasil esse estilo não só invadiu o metrô, varias experiências foram realizadas em termos de técnica, pois no inicio só se via um tipo de traço de spray. O tamanho padrão das latas, com jatos relativamente grossos, fez com que se buscassem novas possibilidades de variação de bicos. Assim percebeu-se que desodorantes e inseticidas possuíam bicos que produziam traços mais finos. A partir daí, descobriu-se que extraindo um pouco de ar da lata de tinta spray seu jato torna-se menos denso, e o traço mais fino, e assim fora se aprimorando. Por ultimo, tivemos a utilização do compressor, substituindo a lata de spray, porem muitos dos grafiteiros discordam da utilização dele, pois alem de substituir as latas está substituindo o próprio grafiteiro, deixando o de comparsa a uma máquina.
O estilo americano começou realmente a ser realizado em grande escala em 1989, com os gêmeos², Speto, Binho, Tinho e ,ainda, o excelente grupo Aerosol, que se destacaram entre outros.
Grafitagem de Blu e Os Gêmeos Grafitagem de na faixada de um prédio e Portugal para o Crono Festival em Lisboa.
Hoje em dia, além das letras coloridas, característica do grafite americano, estão aparecendo desenhos elaborados, partindo de apurada técnica.
Esses desenhos traduzem o universo hip hop em suas mais variadas nuances, com figuras humanas dançando, pensando, cantando, etc. bastante
americanizado, porém, os mesmo estão caminhando para uma evolução, podemos verificar que o estilo americano, está aqui no Brasil passando por adequações para a realidade local, e assim expondo nossa cultura a população.
Os projetos de grafitagem para a educação tem por objetivo debater sobre as manifestações artísticas em espaços não-convencionais e experimentar o caráter transgressor da arte, conhecendo e debatendo sobre as relações nas escolas entre arte e a política.
Se faz necessária uma discussão sobre as diferenças entre o grafite, a pichação e a "pixação", tendo em vista que há uma diferença entre estas duas últimas manifestações, que não se restringe ao modo de grafar as palavras. A pixação aparece de modo mais incisivo a demarcação de território, ocupação, e este pode ser um dos motivos de serem feitos em locais que nos leva a questionar o pro quê são pixados. As três formas de manifestação apresentam suas transgressões, se considerarmos a articulação entre arte e política. Porém para quem as vê, significam ações depredatórias e poluidoras visuais.
As pichações, que surgem historicamente como espaço de expressão de ideias políticas, lança mão da linguagem verbal, são frases ou palavras de ordem. Podem também ser frases poéticas ou declarações de amor e amizade. O pixo expressa o espaço em disputa, e as palavras ou frases utilizadas são grafismos indecifráveis para as pessoas que não fazem parte do grupo (como o Grupo Pixação, de São Paulo. O grafite tem caráter transgressor pela vontade de levar a arte para fora dos muros da instituição (como Alex Valauri, o pai do grafite no Brasil). A maioria dos grafites exploram a linguagem visual, mas podem também trazer com frases ou palavras trabalhadas plasticamente com formas e cores. Portanto, a proposta é que o garfitagem nas escolas ganhem um caráter político e possibilite a apropriação dos espaços como forma de expressar seus pensamentos de forma organizada e abundante em informações. Os elementos arquitetônicos da escola pode ser um importante espaço para que o grafite acorra, observando se o grafite se ajusta naquela arquitetura, investigando a potencialidade de cada espaço – interno ou externo, pois é a partir disso, que as ideias para a grafitagem vão surgir.


Grafite de Nuxuno Xan, grafiteiro da Martinica,
ajuste de grafite a arquitetura disponível.


As propostas e ideias surgidas podem ser trabalhadas coletivamente, favorecendo aprendizagens relacionadas à partilha de ideias, conhecimentos e responsabilidade de cada um. Possibilitando um estreitamento de relacionamento entre a comunidade interna e a externa, abrindo, dessa forma, uma relação de parceria e estreitamento de pertencimento por parte da comunidade com a escola.
A partir daí é possível fazer uma reflexão das transformações e ganhos entre comunidade interna e externa e quais fatores podem ser melhorados. Acredito que dessa forma todos os envolvidos ganham, tanto no respeitos aos espaços, como em mudanças de comportamento entre as comunidades.


Prof. Walter Zenio

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